Uma das dúvidas que rondam as cabeças esfumaçadas é se, de fato, a erva pode prejudicar nossa memória. Será que dá para responsabilizar a cannabis pelos nossos esquecimentos?
A resposta é: depende.
“Quando pensamos em memória, geralmente pensamos no ato de reter lembranças. Mas, não é necessariamente. Uma memória boa não é só aquela que lembra, mas aquela que esquece também”, explica o neurologista Lucas Cury.
O fato é que os compostos da cannabis podem afetar nossa memória de formas bem diferentes: retendo ou apagando lembranças do nosso cérebro – por isso, seu uso terapêutico inclui condições tão distintas, como o mal de Alzheimer e o Transtorno do Estresse Pós Traumático (TEPT).
“A planta da cannabis tem mais de cem elementos terapêuticos, sendo que apenas um, o THC, altera nossa percepção da realidade. O THC pode gerar prejuízo na memória recente quando usado de forma exacerbada – ao contrário do CBD”, explica Cury. “Porém, em pacientes mais velhos, o THC potencializa a formação de novos neurônios, otimizando nossa memória, nos fazendo esquecer o que está sobrecarregando e liberando espaço para nossa memória potencializar as informações que precisamos”.
Mas, se você sente dificuldade de se lembrar de acontecimentos ou informações recentes e isso atrapalha sua vida, pode considerar reduzir o consumo de THC, ou ainda estimular a retenção da memória de outras maneiras.
“A melhor forma de consolidarmos uma memória é ter afeto pela recordação (não necessariamente amor) e, principalmente, dormir. Dormir é consolidar o aprendizado.”, diz Cury, e completa: “E aí, existe outro fator interessantíssimo: a cannabis melhora a qualidade do sono”.
A complexidade da cannabis, a interação entre seus compostos e a relação com nosso organismo envolvem tantas variáveis que as perguntas simples têm explicações complicadas, que geram novas discussões e ampliam o debate sobre o poder dessa planta – e que deixamos para dichavar nos próximos textos.